CARTA
ABERTA
à
Agência Regional de Desenvolvimento do Vale do Tua
Lisboa, 19 de Novembro de 2012
A Agência
Regional de Desenvolvimento do Vale do Tua convidou o GEOTA e outras
organizações a participar num workshop sobre a criação de um “Parque Natural
Regional do Vale do Tua” no dia 20 Novembro 2012.
Antes de mais
gostaríamos de vos questionar sobre o que estão a planear fazer. Se se derem ao
trabalho de procurar num qualquer dicionário a definição de “Natural”, ou nas
normas nacionais ou internacionais o que é um “Parque Natural”, vão desde logo
perceber que propõem simultaneamente uma impossibilidade e um erro crasso.
O Vale do Tua
ostenta hoje valores naturais e culturais de elevado valor, de que se destacam
a paisagem única, um ecossistema ribeirinho com características raras, uma
ocupação social milenar em equilíbrio com a Natureza, e a fabulosa linha
ferroviária do Tua. Tudo isso será, literalmente, afogado, se a construção da
barragem de Foz Tua avançar.
Mais chamamos a
vossa atenção que, após consultar o vosso website, nos deparamos com várias
omissões gritantes. Gostaríamos de ver referências à linha do Tua, ao caderno
de encargos complementar exigido pela UNESCO, ao processo da obra complementar
“Linha de Muito Alta Tensão Foz Tua-Armamar” que foi chumbada e sem a qual o
aproveitamento hidroeléctrico é totalmente inútil. Gostaríamos ainda de ver as
conclusões completas do estudo da Arcadis sobre o incumprimento da Directiva
Quadro da Água, e os custos reais tanto do aproveitamento de Foz Tua como do
Programa Nacional de Barragens. Além de apresentarem a Declaração de Impactes
Ambientais (DIA), podiam listar quais das medidas compensatórias já foram
cumpridas, e explicar o princípio da compensação em espécie e magnitude
(evidentemente impossível neste caso).
Seria também
interessante fundamentarem como é que a barragem pode “ajudar a sócio economia
local, desenvolver o turismo e os valores naturais”, uma vez que os principais
valores naturais, culturais e paisagísticos do Vale do Tua estão em vias de
serem destruídos, arrastando consigo a maior valia turística da região. Todos
os estudos científicos, incluindo o EIA oficial, apontam inequivocamente que o
impacte socioeconómico para a região é fortemente negativo.
Chegamos pois à
conclusão que esta iniciativa não passa de mais publicidade enganosa sobre uma
obra nefasta para o Vale do Tua em particular e para os bolsos de todos os
contribuintes portugueses em geral. O GEOTA escusa-se a branquear com a sua
presença uma iniciativa que pretende atirar areia para os olhos das populações
locais, tentando desesperadamente fazer render a herança de um tempo em que
encher o País de betão e alcatrão se confundia com desenvolvimento.
Por outro lado,
caso a ADRVT resolva defender a sério os interesses da região, condenando frontalmente
a construção da barragem de Foz Tua, teremos todo o empenho em colaborar na
criação de um modelo de desenvolvimento alternativo, onde o Parque Natural
poderá ser um instrumento de valorização de um Vale do Tua não destruído.
Com os melhores
cumprimentos,
João Joanaz de Melo
Presidente do GEOTA
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